Psicopatologia e Periculosidade

Este texto trata-se de uma reflexão bastante atual proposta por Herlon Ferreira, aluno da graduação de psicologia. A relação proposta entre o estudo da psicopatologia e o conceito de periculosidade nos traz um olhar mais vivo sobre essa questão.

A periculosidade é um construto, criado historicamente pela manifestação do sujeito para consigo mesmo e com os outros, e o binômio jurídico-psiquiátrico, que é um poder-saber que condiciona a percepção do criminoso com um caráter preventivo.

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A esfera jurídica “busca a solução científica do problema, isto é, numa análise psiquiátrica do criminoso a que deve reportar-se, após examinar todas as medidas de prevenção”[1].  Logo, pelo modelo psiquiátrico tradicional, que já tratavam seus loucos em hospitais (que não eram de Custódia) como em prisões de guerra,o saber psiquiátrico já atribuía a periculosidade até mesmo aos loucos que não cometiam crimes, pois, eram trancafiados e expurgados, para o bem da sociedade, como bem conta a História da Loucura.

A ideia de periculosidade tem um possível alicerce na noção de metánoia, (ideia de origem platônico-cristã que relaciona penitência como produção de mudança “[2]). Através deste conceito, o ideal de reabilitação dos indivíduos encarcerados em penitenciárias, segue esta tendência da produção histórico-subjetiva deste termo.

O tema escolhido para este estudo é a relação entre psicopatologia e periculosidade , bem como sua cessação, já que cada termo segue um encadeamento lógico, processual, digamos assim, pois, trata-se de ações e reações, onde há o entrelaçamento de saberes jurídicos e psiquiátricos, já que são avaliados o criminoso, seu delito e sua própria compreensão do mesmo.

Conforme o artigo 26 do Código Penal, que versa sobre a inimputabilidade, ao sujeito que não entender o caráter ilícito do fato, devido à condição de doença mental ou retardo, cabe as medidas de segurança, a internação imposta, conforme o:

Art. 97 – Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial.

Prazo

§1º – A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 (um) a 3 (três) anos.

Perícia médica

§2º – A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo fixado e deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz da execução.

Desinternação ou liberação condicional

§3º – A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional devendo ser restabelecida a situação anterior se o agente, antes do decurso de 1 (um) ano, pratica fato indicativo de persistência de sua periculosidade.[3]

Então adentrando ao tema da Periculosidade, vemos que o aspecto jurídico busca apoio no saber psiquiátrico, já que, através da história, foram instituídas coletâneas de nosografias, onde são delimitadas noções básicas sobre o que é patológico, para proteger aquilo que é tido como normal, desde a nau dos loucos, passando pela criminologia lombrosiana.

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Nos dias atuais, o saber dos comportamentos inadequados, criado em diversos manuais, dará norteamento para definir a psicopatologia. Mas, estará a periculosidade dentro dos transtornos psiquiátricos? É uma pergunta controversa e difícil de ser respondida, pois, se há absolvição, então, não há periculosidade na psicopatologia, entretanto, a Justiça visa sempre a não reincidência do delinqüir,ou seja, é uma questão de proteção social, portanto, a questão passa a ser:   

          Em que se diferenciam, então, periculosidade e capacidade de delinqüir? Esta questão mostra-se fundamental para compreendermos o dispositivo que se instaura em torno dos loucos-criminosos, que são paradoxalmente absolvidos e submetidos a uma sanção penal indeterminada em sua duração, justamente por ser tal procedimento fundamentado na periculosidade.[4]

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No nível da construção social, que é composta por sujeitos que interagem em uma rede lógica de linguagem, onde práticas são criadas, e depois comunicadas para serem estruturadas e fixadas nas relações humanas, então, vemos a criminologia atravessada pelo discurso social, que é iniciada e elaborada pelo Sujeito.

A noção de periculosidade significa que o indivíduo deve ser considerado pela sociedade ao nível de suas virtualidades e não ao nível de seus atos; não ao nível das infrações efetivas a uma lei efetiva, mas das virtualidades de comportamento que elas representam.[5]

 Há ainda interferências abusivas dos discursos da mídia informativa, que quando o assunto televisionado é entre loucos infratores e a periculosidade, ocorrem manipulações das informações, onde a sociedade recebe-as de forma deturpada, bastante alegórica, e então fica a “significação social do crime reduzida a seu uso publicitário”[6] instruindo mal a população, que massivamente segue o apresentado.

Podemos pensar que a linguagem e a comunicação, ao longo da história, traçaram formas de subjetivar a noção criminológica, principalmente, quanto ao caráter da periculosidade, e tal enredo, é feito de sujeito a sujeito, que compõem o social.

Sendo assim, conforme toda exposição anterior, o laço que une a psicopatologia e a periculosidade é a relação histórica e discursiva da psiquiatria com o conhecimento jurídico. Contudo a motivação desta junção está nos ideais de cientificidade em modificar o fenômeno controlando o problema, trancafiando-o. Isto não se concretiza, ademais há contradição em aprisionar aquele que deve receber tratamento. Portanto, é pertinente a crítica sobre toda tentativa de aliar a psicopatologia à periculosidade, pois, tratam-se apenas de discursos de sujeitos que compõem a sociedade, onde, a objetividade é mera aparência, pois, o que existe é a virtualidade criada pela relação discursiva entre sujeitos, possibilitada e atrelada nas cadeias significantes da Linguagem.       

                                                                          

 


[1] LACAN,Jacques. Escritos.Introdução teórica às funções da psicanálise em criminologia.Jorge Zahar, Rio de Janeiro.1998.135pp

[2] FOUCAULT,Michel. A Hermenêutica do Sujeito.Martins Fontes, São Paulo. 2010. 190pp

[3] BRASIL. Lei nº 2.848 de 07.12.1940 alterado pela Lei nº 9.777 em 26/12/98. Código Penal. Editora América Jurídica. 2ª edição, Rio de Janeiro.2005.39pp.

[4] PERES, M. F. T. e NERY, Filho, A.: .A doença mental no direito penal brasileiro:inimputabilidade, irresponsabilidade,periculosidade e medida de segurança..História, Ciências, Saúde . Manguinhos,Rio de Janeiro, vol. 9(2):335-55, maio-ago. 2002.349pp.

[5] FOUCAULT,Michel. As verdades e as formas jurídicas. 3aEd. Rio de Janeiro: Nau Editora; 2003.85pp.

[6] LACAN,Jacques. Escritos.Introdução teórica às funções da psicanálise em criminologia.Jorge Zahar, Rio de Janeiro.1998.147pp.

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Vulgar

 

Este espaço destina-se a publicação de textos produzidos por alunos do curso de psicologia. Para a inauguração escolhi esta crônica escrita por Dani Schunk. Ela retrata cenas do cotidiano que são atravessadas pela temática da psicologia e nos convida a uma instigante reflexão. 

vulgar

VULGAR

por Dani Schunk

   – Vulgar!!!!!!!

 Disse ela, em tom quase brutal. Voltei minha atenção imediatamente àquelas duas conversando, a minha frente, enquanto esperávamos na fila para pagar o estacionamento. Disfarçando como pude, estiquei o pescoço na direção da conversa.

 – (…) é assim que me sinto, toda vez que vejo esse tipo de gente que não faz a menor idéia do que seja ser psicólogo – Disse a ruiva, de grandes óculos e franja curta, subindo e descendo os dedos em gesto de aspas e repetindo como quem separa as sílabas:

 – “V-u-l-g-a-r-i-z-a-n-d-o” a psicologia!

 Ao perceber que sua amiga, balançava a cabeça em sinal de aprovação, continuou:

– Já não basta qualquer um se sentir psicólogo hoje em dia, depois de ler um livro ou talvez dois textos, extraídos de artigos pseudocientíficos publicados em Blog´s duvidosos… como podemos proteger o verdadeiro significado do que fazemos das más intenções desse tipo de  gente,  que trata a psicologia como um saber banal e ordinário, como se fôssemos conselheiros ou coisa que o valha”? Todos os que atuam nesta área, são responsáveis!” – sentenciou.

Antes que a baixinha de olhar esbugalhado pudesse dizer qualquer palavra em resposta, a fila andou, elas se foram, e eu fiquei entrecortada com aquela revolta.

Pode-se dizer que a psicologia torna-se mesmo vulgar quando se insiste obstinadamente em seu uso prescritivo, apenas em períodos de crises disfuncionantes, e o caráter restritivo deste uso acaba impedindo o desfrute real de suas vicissitudes.

A psicologia terapêutica, científica e preventiva, entremeada de coerência, serve de meio para o individuo produzir sua própria forma de saúde mental, facilitando a autodescoberta, em meio à sinuosidade das escolhas, e a revelia até mesmo de suas dúvidas quanto à própria capacidade de ser.

 Contudo, não é somente em benefício do indivíduo, em campo clínico, que a psicologia age. A maioria da população não faz idéia de sua aplicabilidade em benefício da sociedade, em diversas outras áreas: jurídica, educacional, econômica, de comunicação, hospitalar entre tantas outras. Não é difícil saber por quê: reconhecer a verdadeira informação da que não é em tempo de tecnologia fácil e compartilhamentos online, em geral, não é tarefa das mais fáceis.

O psicólogo, precisa sair em defesa de seu saber, desconstruindo idéias fantasiosas, lançando descrédito sobre informações equivocadas, e acusando teorias duvidosas. Defender a psicologia das elucubrações do senso comum, do ceticismo e da ignorância é bem possível enquanto sua cientificidade for difundida em termos práticos e simples por todos os que atuam ou atuarão nessa área.

Eu não disse, mas deveria ter dito: Você tem razão moça ruiva, somos sim, todos responsáveis!

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Evento

Este eu recomendo como um importante evento, para quem deseja se atualizar ou seguir os caminhos da psicanalise.

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Que tipo de analista você é?

Tem se tornado muito recorrente, em minha clinica, a seguinte questão interrogada pelas pessoas que acompanho: Você é uma psicanalista diferente? Ou você instrumenta uma psicanálise moderna? Que tipo de psicanalista você é?

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Sempre me surpreendo com essas perguntas, porque também me pergunto: Do que se trata isso que eles chamam de diferente ou moderno? Será o jeito que falo? Será a forma com que manejo a transferência? Será meu acolhimento? Ou quem sabe até minha postura? Difícil responder…

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Contudo algumas observações me surgem à cabeça. Lembro-me de ter lido um livro chamado Cartas a um jovem terapeuta (Contardo Calligaris), num momento de minha trajetória profissional, que foi muito esclarecedor. Em suas páginas Calligaris descreve algumas características básicas que constituem um bom psicoterapeuta, assim entendi. Entre elas, ele destaca certo dom de estranheza e apreço pelo que é diferente ou exótico. Como também acrescenta que as marcas próprias de sofrimento forjam um bom terapeuta. Afinal, quem melhor para entender a dor senão aquele que já passou por ela, não é mesmo?

Sigmund Freud, médico neurologista  e fundador da psicanálise[11]

Isso, naquela época foi-me libertador. Porque todos aqueles estereótipos tão massificados na graduação como também pela mídia foram desbotando aos meus olhos. Percebi que mais do que trejeitos estereotipados (refiro-me a face de quem lê Estadão), silêncios longos e onomatopeias (refiro-me a o Hum Hum … Hã? Hãããã ….), o que forja um analista é a marca pessoal que se imprime na clinica de todo dia, através de uma singular trajetória de vida.

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Apesar de parecer uma crítica ao modelo midiático, não trato isso com esse tom. Até acredito que quando jovens em nosso percurso acadêmico, eles nos valem de alguma coisa… Protegem-nos dos erros tão comuns ao processo de formação e nos dão tempo para nos acostumarmos a esse lugar, de “suposto saber” sobre o outro. Contudo. crescemos e ganhamos corpo neste processo de aprendizado. Acabamos esquecendo-nos de questionar sempre, esse lugar que ocupamos, na clínica de cada um. Deixamos de nos reinventar nesse processo.

Nos textos de Freud encontramos a referência de um tripé analítico como fundadora de uma formação. Ele destaca que a formação em psicanálise se dá através de três pilares fundamentais. Primeiro ele pontua a importância da analise pessoal do analista. Até mesmo porque, a análise de nossos analisandos, avança até onde a nossa analise pessoal avança também. Então vocês devem estar perguntando: Se quero ser psicanalista vou fazer analise pessoal para sempre? A melhor resposta a isso seria que devemos fazer analise até o momento que desejamos e na proporção que permita a nossos analisandos avançarem também. Reflitam como achar que devem…

Outro pilar seria a supervisão psicanalítica. Esta tem uma importância clara, já que além de nos orientar sobre aquilo que é nosso, e do outro no setting terapêutico, também fornece consistência a esse lugar de formação, que vamos construindo a cada sessão e a cada caso. Recordando sempre que cada clínica é única, em sua construção e intervenção.

Por fim, ele destaca a importância dos estudos dos textos psicanalíticos. Sempre que me debruço novamente sobre um inscrito percebo que minha maturidade profissional confere novas cores e nuances, as palavras destacadas. Nunca é o mesmo texto!

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Agora, porque fiz todo esse preâmbulo? Para apenas sinalizar que não existem modelos certos e exatos, sobre que posição se deve tomar frente ao outro, no setting terapêutico. A maneira com que instrumentamos o saber psicanalítico só se torna viva, no momento exato que se pronuncia. E isso é atravessado pelo nosso percurso profissional e trajetória de vida. Também ira somar e contribuir aquilo de peculiar, a personalidade de cada um. Cada sujeito que senta num divã irá acionar no analista a necessidade, de certa forma de intervenção. Como saber isso? É só no aqui e agora que se faz a clinica.

Lendo recentemente uma entrevista dada por Gregorio Baremblitti ele faz uma referência, de que um terapeuta deve reinventar sem parar em si mesmo, sendo que seu si mesmo acaba dissolvendo-se no fluir do processo. Ele propõe introduzir qualquer recurso que possa catalisar o percurso. Então entendo, através disso, que o instrumentar psicanalítico deveria ser sempre aberto a novos manejos de sua instrumentação. Digo que a teoria funciona como uma base para a interpretação, mas as ferramentas de escuta serão construídas a cada situação e para cada caso. Ele ainda adverte que: Todas as certezas são suspensas, até a certeza de que tem que se analisar… Exceto que a “inspiração” é o que “cura”.

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Por isso, que mesmo que meus pés estejam plantados e respaldados por toda uma teoria, ainda assim, entendo que o maior saber em jogo é aquele que surge e se faz na demanda, do outro, a quem escuto. Faz-se num pedido velado e decifrado, somente no aqui e agora, a que nenhuma moldagem se submete. Por isso, posso responder agora que não pretendo fundar uma nova vertente teórica, nem tão pouco ser diferente ou moderna. Só apenas instrumento e atuo numa clínica que antes de ser minha, também é construção do outro. É potência de vida e construção do NOSSO!

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Feliz Todo Dia!

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       Neste final de ano gostaria de agradecer a colaboração e participação de todos neste espaço. Apesar de estar um tanto quanto enrolada, com o final de minha dissertação de mestrado e por isso interagindo mais espaçadamente. Contudo, respondi a todas as questões que recebi individualmente. Tudo bem que foi com alguma demora…rsrsrsrs! Mas sempre considero tudo que recebo de sugestão. São muito bem vindas sempre!

        Como reflexão de final de ano gosto sempre de lembrar e desejar, que mais que um último mês para refletirmos, que essa intenção possa ser um objetivo, a cada nosso despertar. Ser feliz e prospero é uma meta que deveria estar sempre em nossas mentes e desejos diários. Tanto para nós mesmos, como para  aqueles que compõem nossa história diária. Por isso vamos tentar o compromisso de sermos fraternos e gentis a cada dia de vida. Asim teremos sempre um motivo para celebrar a cada despertar!

Obrigada pelo carinho da leitura de vcs! Espero continuar a fazer jus esse ano tb!!!

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Novos ares na psicologia.

Cada vez mais a psicanálise vem participando no avanço de novos caminhos para a saúde. Não é de hoje que temas epidêmicos de saúde me sensibilizam e são discutidos aqui nesse espaço. Assuntos como síndrome de burnout, síndrome de túnel do carpo, depressão entre outros, deixam claro a influencia que o psiquismo possui na criação e agravamento de sintomas. Pressões psíquicas, cotidianas, a que somos submetidos, a exemplo de bullyng e assédio moral confirmam a influencia do meio social no psiquismo e sendo assim, na produção de novos sintomas. Então sobre que ângulo teórico poderia conceber a resposta sintomática, nesses casos?

No livro A DOR FISÍCA (J. D. Nasio) o autor distingue a dor em 3 tipos. Dor corporal dor psíquica e dor psicogênica. Em se tratando de dor psicogênica, ele definiu como uma dor (nesse caso sintoma) de origem psíquica que vem exprimir-se no corpo. Nesse caso, as situações de vida que não conseguimos elaborar, como também os sentimentos são dirigidos ao nosso inconsciente e se tornam uma força psíquica poderosa.

Outra variação deste conceito, que tem contribuído em minha clinica é a do fisiatra americano John Sarno, em que a dor psicogênica é uma estratégia da mente para desviar nossa atenção do conteúdo psíquico que deseja emergir. Sarno na elaboração de sua teoria inspirou-se em evidencias da psicanálise freudiana e psicossomática.

Em ambos os autores, o conceito de dor psicogênica é de origem psíquica. Nasio vai mais adiante afirmando que toda dor é psíquica, já que possui estreita relação na origem ou interferência dos sintomas físicos.

A epidemia de dor que assola o mundo é algo que merece uma cuidadosa consideração, pelo campo da saúde. O sujeito moderno calado em suas “convicções” responde cada vez mais ao social, com seu corpo. Essas tantas novas “dores” apontam um fim ao pensamento dual: mente e corpo.

 

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Arte em palavras…

A mente é um profundo poço de nossas incompreensões ou compreensões indigestas, e quanto mais energia investimos na repressão desses sintomas, com mais força eles irão voltar.

Contudo a perspectiva de dar cores e formas a esses conteúdos permite-nos uma reorganização dos mesmos. A arte é uma possibilidade de expressão do nosso indizível. Isso nos convoca a um lugar de reflexão sobre como desejamos escoar e transformar nossos conteúdos psíquicos.

Uma das formas de interpretação dos conteúdos psíquicos, para algumas psicologias é a arte. Esta presta-se como importante ferramenta de interpretação dos símbolos psíquicos. A arte é descrita por inúmeros autores como “portadora” de uma função terapêutica de grande importância. Ela torna-se um poderoso canal de escoamento de conteúdos psíquicos difíceis de lidar, mas que nas cores de um pincel, se tornam visualizáveis, de forma mais suportável e algumas vezes até bela.

A arte nos convoca a um lugar de implicação em nossas dificuldades psíquicas, ao invés de atribuir a culpa aos outros. Ela nos torna responsável e implicado em nossa própria transformação e crescimento subjetivo.

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31/05 – 1ª prévia IX Ciranda – Debate sobre Psicanálise e Arte

Um evento que vale a pena conferir. Eu recomendo!

1ª Prévia – IX Ciranda de Psicanálise e Arte

Dia: 31/05/2012

Debate do filmeRaul – O Início, o Fim e o Meio

Direção: Walter Carvalho

Debatedores:

  • Abílio Ribeiro Alves – Psicanalista, Membro da ELP-RJ
  • Ana Paula da Costa Gomes – Psicanalista, Membro da ELP-RJ

Coordenação: Teresa Palazzo Nazar – Psicanalista, Membro da ELP-RJ e École Lettre Lacanienne – Paris

Local: Livraria da Travessa – Shopping Leblon – Av. Afrânio

de Melo Franco, 290 – loja 205 A

Horário: 20h 30min às 22h

Realização: Escola Lacaniana de Psicanálise – RJ em parceria com Livraria da Travessa.

Atividade aberta ao público

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Aparelho psíquico em Freud

Hoje trago como post, um texto de apoio para disciplina de TCS II curso de medicina/ UFF, confeccionado por mim. Achei gratificante demais elaborar esse texto porque ele reflete um antigo desejo de estudante. Sempre quis um texto objetivo e sintético, que fosse o pontapé inicial, para aguçar meu interesse. Acabei por aguçar mesmo assim, mas foi um longo trajeto, assim apresento a síntese do caminho que percorri. Lembrando que esse é apenas um resumo, e o entendimento mais complexo requer a leitura dos originais. Boa Leitura!

Cada vez mais se reconhece o psiquismo como um forte elemento contribuinte para o processo de adoecimento humano. Por isso, da mesma maneira que ele pode contribuir deflagrando um processo de adoecimento físico, ele também pode interferir para um bom prognóstico de uma afecção.

            Freud (1900) nomeou o aparelho psíquico, como uma organização psíquica dividida em sistemas ou instâncias. Cada instância possui uma localização, uma função e estão interligadas entre si. Num primeiro momento, Freud designou uma divisão de lugares virtuais para a mente: Pré-Consciente, Consciente e Inconsciente. Essa divisão ficou conhecida como a Primeira Tópica (Topo/em grego = lugar).

Num segundo momento, Freud (1920 a 1923) descreveu a estrutura das instâncias, seu modo de funcionamento na estrutura da personalidade e acrescentou os conceitos de: Id, Ego e Superego. Assim definiu-se a Segunda Tópica. Juntas, essas instâncias trabalham nas ações e reações. Porém separadas, possuem papeis específicos a serem desempenhados na mente.

Ego – A essa instância psíquica cabe estabelecer o equilíbrio entre os impulsos liberados pelo Id e as limitações impostas pelo Superego. É a instância que encontra-se no nível consciente do aparelho psíquico, e assim regula as ações e reações dos individuo. O Ego é responsável pelo princípio da realidade, em que é introduzida a razão, o planejamento e a espera do comportamento humano. O Ego representa os valores da sociedade.

Superego – Esta instância divide-se entre a procura do bem estar ideal e a consciência moral, que determina o mal a ser evitado pela mente. O Superego forma-se a partir da introjeção dos valores transmitidos pela família, na infância, e pela sociedade. O superego é o lugar da censura, do corte, do tabu e tem como característica o pensamento dualista (certo ou errado/ tudo ou nada). Sendo ele responsável pela consciência moral, quando sua atuação é reduzida, ou não se sobressai, o id toma o lugar de dominância no psiquismo. Um exemplo disso são as psicopatias, em que falta remorso ou culpa nas atitudes. Quando o superego está equilibrado ele produz a culpa e o pensamento dual, assim nasce o pensamento neurótico: o sujeito dividido.

Id – É uma instância totalmente inconsciente. Nele localiza-se uma espécie de “arquivo” de impressões que recebemos ao longo da vida. Ali ficam guardadas as impressões de desprazer ou “evitação”, que são recalcadas. O id funciona na busca do prazer e evitando o desprazer, assim ele necessita de uma imediata satisfação e não aceita a frustração. Ele desconhece ética ou moral, se expressa sob uma própria realidade e não conhece inibições. Nas crianças o id é um exemplo de maior manifestação. Dada à condição de desenvolvimento da personalidade da criança, o id ainda não se encontra sob forte contenção psíquica. Quando uma criança faz uma “pirraça” (grita ou joga-se ao chão) na intenção de conseguir algo dos pais é o id se manifestando. O id se expressa na forma de reação e ação, naqueles momentos que se age sem pensar.

A descrição acima teve como objetivo uma característica didática, que trouxesse uma noção da importância das funções do aparelho psíquico e uma apresentação superficial desses conceitos. Estudos mais avançados já consideram um dinamismo no aparelho psíquico, em que essas instâncias coexistiriam sem um determinismo exato de suas camadas. Contudo, respeitando o papel desempenhado de cada uma.

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA:

LAPLANCHE & PONTALIS. Vocabulário de Psicanálise.

SIGMUND. F. Obras completas

Registro de produção do texto: http://lattes.cnpq.br/1301297181019133

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Sete dias com Marilyn – Uma olhar psicanalítico sobre o filme.

Sete dias com Marilyn traz um recorte de vida, desta estrela hollywoodiana. Michelle Williams encarna Marilyn Monroe como uma diva insegura, que busca a todo o momento a confirmação de seu talento e que demonstra um invólucro psíquico, que chama a atenção, por sua superfície tão frágil.

Um olhar psicanalítico sobre Marilyn (interpretada por Michelle) desvela a possibilidade de uma incrível fragilidade emocional e personalidade dependente. Ela é possuidora de um séquito que a mima em cuidados e a protege de ser tocada, em sua fina superfície psíquica. Algo como se a protagonista pudesse romper-se, a menor brisa. A estrela busca e exige do “outro”, um olhar que confirme e a autorize a sua existência, enquanto uma celebridade. Diante desse olhar de admiração e veneração do “outro” ela se reconhece, e assim cola-se em uma transferência maciça de suas necessidades/sentimentos. Contudo, uma transferência intensa, mas transitória. O objeto de amor para Marilyn é aquele que a autoriza a ocupar o lugar de estrela e reconhecimento pela sua carreira. Em alguns momentos da narrativa, ela muda de objetos (alterna a intensidade de relações entre seus assistentes pessoais e empresário), mas sempre dirige a mesma estrutura relacional: intensa e momentânea.

Seu relacionamento com Colin Clark (Eddie Redmayne) ilustra um dos momentos de âncoramento transferencial de Marilyn. Ela encontra nele o olhar que a autoriza a sentir-se viva e segura. A forma com que a estrela transfere seus sentimentos aponta de forma característica para um possível perfil psicótico. Colin em seu relato auto-biográfico explicita nuances que caracterizam uma mulher, que a todo instante despenca em um abismo emocional. Vale lembrar que esse temperamento de Marilyn ilustra uma fase pré-Kennedy. O que aponta uma estrutura psíquica, que já vinha dando indícios de uma ruptura psíquica posterior.

A diva apresenta um humor que oscila a cada mudança de cena. Vemos a Marilyn sair de um abismo depressivo, para em seguida, uma euforia juvenil. Em seus momentos de queda emocional, ela elege uma pessoa com quem estabelece um protagonismo psíquico, que se assemelha muito a relação anaclítica dos Borderlines (Transtorno de personalidade limitrofe). Vários momentos causam a impressão, de que a estrela porta uma delicada e fina pele psíquica que a protege do mundo, tal qual um recém-nascido. Seus momentos de tensão fazem parecer que Marilyn irá desmanchar-se frente aos olhos, que a observam.

Outra nuance que se destaca no filme é o carisma da personalidade de Marilyn, que tanto é acionado para inspirar sexualmente seus seguidores, como os tornam protetores de suas excentricidades. Não se observa na personagem, uma aparente força de seu temperamento, mas seu ar desprotegido e faceiro torna-se uma forte arma de uma “doce manipulação”.

Enfim, a estrutura psíquica de Marilyn Monroe apresentada no filme, evolui em seu curso, junto à controvérsia de sua vida. Em alguns momentos transita na polaridade de seus humores, em outros caminha limítrofe, a flor da pele de suas fragilidades. Uma diva que em todo seu carisma enigmático, não consegue se resumir, nem aqui. Assim deixo minhas impressões para que instigue a reflexão, dessa personalidade envolvente que não se esgota, ao menos para mim.

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Do Caco a Fala: um estudo de caso (Artigo no formato de publicação)

Olá Leitores!

Primeiro gostaria de agradecer a leitura e e-mail de vocês. Tenho demorado um pouco, em conseguir responder individualmente todas as questões. Porém a tempo responderei a todas. O mestrado em Saúde Coletiva tem sido absorvente! Por solicitação de alguns leitores exponho o artigo do Caco a Fala escaneado do livro. Incluo também referencias para bibliografia e capa. Percebi que assim contemplaria as dúvidas de um número maior de leitores e facilitaria a impressão. Em breve novo post.

O artigo na integra só para leitura encontra-se no link de ARTIGOS do blog. Obrigada e boa leitura!

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Saúde Mental para iniciantes I

Saúde Mental para principiantes é uma idéia que surgiu a partir da procura, por e-mail de estudantes, que me pediam esclarecimentos sobre o tema. De forma breve estarei postando uma coleção de trechos colhidos, na minha dissertação de mestrado, que podem contribuir para situar os inexperientes e curiosos, nesse campo. Esse é o primeiro. Boa leitura!

A partir da década de 80 asaúde mental tem passado por transformações paradigmáticas, no que diz respeito aos seus saberes e práticas. Esse processo de mudança de paradigma transforma uma assistência, que era centrada no modelo hospitalocêntrico, onde o leito psiquiátrico era a única intervenção de tratamento, em uma nova cena, cuja proposta é um cuidado pautado na integralidade, para além de novas estruturas e dispositivos de assistência.

Os dispositivos da assistência como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Residências Terapêuticas, entre outros[1], trazem uma proposta de invenção de um cotidiano que possibilita trocas sociais aos usuários da saúde mental. Estes se constituem em um desafio à Saúde Pública, já que sua maioria tem laços rompidos ou muito esgarçados com o social. A superação desse desafio envolve mudanças no campo político, social e cultural.  Os novos dispositivos de cuidadoem Saúde Mental surgiram para que o Hospital Psiquiátrico não continuasse sendo a única resposta para o sofrimento psíquico.

De acordo com Amarante (2003: 53.): “… a doença não é um objeto, mas uma experiência na vida de sujeitos distintos”. Deste modo, a implementação de políticas públicas específicas , que contemplem a diversidade de experiências se faz mister para consolidação da Reforma Psiquiátrica. Há que se conhecer o perfil de cada clientela e seus caminhos distintos de entradas e saídas nas instituições: o seu caminhar fora dos muros institucionais.

Amarante (2001) avalia como uma imprudência entender a Reforma Psiquiátrica como uma simples reestruturação do modelo hospitalocêntrico. O cuidado não deve ser visto apenas como um local ou uma nova forma de geografia da assistência, mas deve se traduzir em algo que vá até o usuário, que respeite suas particularidades e necessidades. O cuidado deve ser uma ponte entre aquele que sofre e a sociedade.


[1] Portarias 189 /91, 224 /92 e 336 /02 que regulamentam as modalidades de serviço dos CAPS – Centro de Atenção Psicossocial. Já a portaria 106 /00 regulamenta os Serviços de Residências Terapêuticas. A rede também conta com outras bases de atenção comunitária tais como: ambulatórios de saúde mental, centros de convivência e cultura, as equipes matriciais e hospitais-dia. Em: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a Saúde. “Saúde Mental no SUS: Acesso ao tratamento e mudança do modelo de atenção”. Relatório de Gestão 2003 – 2006. Ministério da Saúde: Brasília, janeiro de 2007, 85 p.

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Analista fala ou não fala???

Já não é a primeira vez que recebo analisandos que me fazem a seguinte pergunta, ao primeiro contato ao telefone: “Sua linha de atendimento é daquelas que falam e explicam o processo ao paciente ou você só fica ouvindo?” 

Essa questão sempre me causa certo estranhamento, já que no primeiro contato acho prudente explicar como funciona o processo de analise. Sei que nem todas as linhas (usando o conceito do senso comum) irão concordar com isso. Mas entendo que o perfil de atendimento de cada analista é determinado por certo estilo, definido pela personalidade de cada profissional. Nessa parte alguns colegas vão pular frente ao PC. Porém entendo que a personalidade do analista não deve comparecer nos tratamentos de seus pacientes, mas como negar que a forma de conduzir venha atravessada por certos tons particulares?

Então…Qual a melhor estratégia ou linha para cada tipo de paciente. Sou a favor da premissa de que A PSICANALISE ESTÁ PARA TODOS, MAS NEM TODOS ESTARÃO PARA A PSICANALISE. Assim explicar como o processo de análise se dá logo das primeiras entrevistas me parece de bom senso. Mesmo que não se trate de uma aula didática percebo que algumas explicações sobre como se dá o processo trazem certo conforto e desinibição nos primeiros contatos. Algo que vejo como fundamental para que os analisandos insistam no processo e se permitam experimentar. Esse é um ponto de vista muito particular de minha clínica e que tem feito seu diferencial até hoje.

 

Contudo, nós analistas não devemos deixar nossos pacientes completamente satisfeitos, já que a análise acontece numa certa dose de insatisfação dos desejos. Assim permita-se a cada caso avaliar até onde deve ir nas explicações. Tudo em análise tem uma certa medida, que só pode ser mensurada no aqui e agora. Essas recomendações têm sua importância, para que não reforcemos estereótipos de mutismo ou de aconselhamentos, tão difundidos pela mídia televisiva.

                Analista fala! Fala no ato, no caso e no momento que faz diferença falar!

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Evento – Ciranda de Psicanalise

Recomendo este evento!

Obs: Salvem as imagens do folder no computador e abram com um zoom de 100% para ler bem a programação. Vai como dica!

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Laranja Mecânica: Em um futuro tão indeterminado?

Uma sociedade marcada por contradições, em que se vale pelo que possui, o protagonista é um produto desse sistema de valor.  A delinqüência é um pedido de ajuda, que busca controle, proteção e acolhimento. 

  

Laranja Mecânica é um longa-metragem dirigido por Stanley Kubrick que se tornou um clássico no cinema mundial. Kubrick situa sua história, no que identifica como um futuro indeterminado.  Porém, hoje, não nos parece um futuro tão indeterminado assim.

Em tempos de barbárie social, não nós vemos muito longe, do tenebroso futuro descrito por Kubrick.  O que retoma a uma questão: o que levaria a juventude a atos tão extremos? E em nome de quê ou quem, esses atos? Para essa análise contextualizo um período fundamental no desenvolvimento humano: a adolescência. O filme aborda a violência, sexo, a geração sem limites e o culto a imagem, em seus extremos, tão característico em alguns momentos dessa fase.

A adolescência é um período marcado por descobertas e avanço dos limites dados, em primeiro pelos pais, depois pela sociedade e por fim pela justiça. O jovem testa as leis que marcam as relações, no percurso de expansão de sua personalidade. Ele avança na espera que algo o pare, que traga uma moldura a sua expansão psíquica. Em Laranja Mecânica, Alex o protagonista, ilustra bem a fragilidade dos limites dado pelos seus pais ou não dados. E quando esses limites falseiam é na sociedade que ele avança para a transposição de novos limites. O jovem que não encontra limite devidamente estabelecido pela família busca em última instãncia a sociedade, para que demarque limites tão necessários ao seu crescimento emocional. A delinqüência é um pedido de ajuda, que busca controle, proteção e acolhimento.  Qual o papel da família no desenvolvimento humano? A família nuclear é importante na constituição da personalidade (de seus entes), por si só, é um fato que determina, mas não sentencia. Sua privação marca o inicio de uma reação em cadeia, que pode levar ou não a um comportamento anti-social.


Outro fato curioso, a luz da adolescência, é o fenômeno de identificação grupal. Ilustrado por Kubrick, seu personagem Alex é líder de uma gangue de delinqüentes, conhecidos como Droogs, que matam, roubam e estupram. A gangue se utiliza de um dialeto chamado “Nadsat”, onde há uma certa mistura de línguas. Os Droogs são capazes dos atos mais perversos e aviltantes ao ser humano. Isso demonstra uma realidade psíquica grupal, onde o individuo é tomado pelos impulsos mais primitivos (agressividade, violência, medo e etc.) quandoem grupo. O individuo no coletivo tem mais facilmente seus valores morais e éticos diluídos, pela vontade grupal, do que quando está sozinho. A identificação grupal fornece subsídios psíquicos para que o individuo nivele seus valores por aquilo que é mais instintual, ou melhor descrito como sendo primitivo. A necessidade de auto-afirmação da personalidade, em meio ao grupo, leva o individuo ao anulamento de sua vontade e a participação de atos, que normalmente não faria.

Enfim, a narrativa apresentada por Kubrick nos fornece elementos interessantes ao estudo da personalidade e comportamento grupal. Ela pinta de cores fortes, uma história fictícia que não está fora de questão, na realidade que se delineia-se nos dias atuais. O que não pode-se dizer desse filme, é que: essa laranja esteja passada.

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Bullyng escolar – Parte II

O que é corriqueiro nos EUA poderia tomar um lugar de modismo no Brasil?

Essa semana a mídia sensacionalista explora o bullyng escolar como fator desencadeador do massacre de Realengo. Embora não se tenha como precisar se o bullyng foi o deflagrador desse processo, ainda assim, torna-se alarmante essa perspectiva.  É fato, que a maioria dos pacientes psiquiátricos tenham passado por bullyng em algum momento. Contudo, isso não seria uma fórmula matemática de atos de loucura, mas tira o véu sobre uma questão ainda relegada a segundo plano nos colégios: o bullyng é um importante risco a saúde mental de quem sofre e pode levar ao sofrimento, o grupo que o cerca. Um risco a ser considerado em tempos de barbárie humana!

Lembrando meu post anterior sobre o assunto:

O Bullyng Escolar tem o efeito de comprometer a estruturação saudável da personalidade (já que sua maior incidência é no período da puberdade a adolescência), comportando sentimentos negativos que implicam diretamente na auto-estima, trazendo incertezas sobre um ambiente escolar, em que possa se desenvolver em sua plenitude. Recentemente casos de suicídio juvenil e ataques armados aos agressores são corriqueiros no EUA.

O que é corriqueiro nos EUA poderia tomar um lugar de modismo no Brasil?

O tipo de tragédia ocorrida em Realengo é a primeiro ocorrida no Brasil, mas nada garante que seja a última, pois um número considerável de pessoas, no Brasil, são vítimas diárias de Bullying, o que poderia causar motivação para outras mentes desequilibradas, a fazer igual ou mesmo pior. Por isso, trata-se de uma associação perigosa atribuir, tão somente ao bullyng o ocorrido na tragédia de Realengo.

Ainda assim deve-se manter o sinal vermelho ligado para todos os Educadores, Pais de Alunos e autoridades, que possuem a obrigação de tratar este assunto com mais seriedade e não tamparem o Sol com a peneira!

 

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Assédio Moral: tão antigo quanto o próprio trabalho.

Assédio moral ou violência moral no trabalho não se trata de algo novo ou produzido pela sociedade moderna. Existe desde que o trabalho é trabalho.

O assédio moral acontece quando o trabalhador é exposto a situações humilhantes e constrangedoras,repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício do mesmo. Tanto as relações hierárquicas autoritárias, como assimétricas são o meio mais comum por onde se instrumentam esses abusos. O desfecho dessa situação de violência psicológica leva a desestabilização da vítima em seu ambiente de trabalho, comprometendo sua capacidade organizativa e em muitos casos força o trabalhador a desistir do emprego.

Em minha casuística acompanho um considerável número de pessoas que sofrem abusos em seu trabalho. A permanência dessa exposição num tempo prolongado traz uma série de sintomas psicossomáticos. Situações de prevalência de humilhação repetitiva e de longa duração causam sérios agravos à saúde mental, que vão desde o comprometimento da identidade, dignidade e relações afetivas e sociais. Expõem-se aos riscos de incapacidade laborátiva e suicídio são resultados possíveis nesse tipo de abuso. A psiquiatria hoje possui um diagnóstico que é comum enquanto uma resultante de assédio moral: síndrome de burnout.https://paulamuniz.wordpress.com/2010/08/27/burnout-e-bancos-privados-uma-estreita-relacao/

Quando avaliado nesse diagnóstico, o trabalhador necessitará de acompanhamento psiquiátrico e psicoterápico. Muitas vezes faz—se necessário o afastamento do trabalhador do seu local de trabalho. Essa medida, torna-se repetitiva quando o trabalhador coloca-se exposto, novamente, ao ambiente opressor. Enfim um problema que só conseguimos trabalhar no seu efeito, mas que não se desdobra na fonte de abuso.

Lamentavelmente as grandes empresas ou organizações ainda padecem de incentivos que ultrapassem a prevenção do assédio moral. As jornadas coorporativas, reuniões de equipe semanal e atividades do RH são pálidos recursos de fachada, que não atingem o foco do problema. Isso quando não se tornam uma fonte, a mais, de humilhações e abuso de poder. Assim nesse caso, medidas de proteção se tornam a “arma do cotidiano” para lidar com essas questões.


O que fazer quando sofre-se de assédio moral?

  • Resistir: anotar com detalhes toda as humilhações sofridas (dia, mês, ano, hora, local ou setor, nome do agressor, colegas que testemunharam, conteúdo da conversa e o que mais você achar necessário).
  • Dar visibilidade, procurando a ajuda dos colegas, principalmente daqueles que testemunharam o fato ou que já sofreram humilhações do agressor.
  • Evitar conversar com o agressor, sem testemunhas.
  • Exigir por escrito, explicações do ato agressor e permanecer com cópia da carta enviada ao D.P. ou R.H e da eventual resposta do agressor. Se possível mandar sua carta registrada, por correio, guardando o recibo.
  • Procurar seu sindicato e relatar o acontecido para diretores e outras instancias como: médicos ou advogados do sindicato assim como: Ministério Público, Justiça do Trabalho, Comissão de Direitos Humanos e Conselho Regional de Medicina (ver Resolução do Conselho Federal de Medicina n.1488/98 sobre saúde do trabalhador).
  • Recorrer ao Centro de Referencia em Saúde dos Trabalhadores e contar a humilhação sofrida ao médico, assistente social ou psicólogo.
  • Buscar apoio junto a familiares, amigos e colegas, pois o afeto e a solidariedade são fundamentais para recuperação da auto-estima, dignidade, identidade e cidadania.

 

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Divulgação de grupo de leitura: A histérica e a mulher

Grupo de Leitura:

A histérica e a mulher

Se por um lado podemos dizer que a Psicanálise foi criada no encontro de Freud com a histérica, por outro lado uma das perguntas que o mestre vienense deixou sem resposta foi justamente: O que quer uma mulher?

O caminho percorrido por Freud em seus estudos sobre a histeria foi lançando luz sobre a assimetria entre o complexo de Édipo de meninos e meninas, esclarecendo questões fundamentais sobre a feminilidade. Entretanto, em um de seus textos finais “Análise Terminável e Interminável” de 1937, Freud ao tratar do rochedo da castração localiza na inveja do pênis o impasse último do final da análise para as mulheres, que podemos ler com Lacan como uma reivindicação fálica, muito próxima da queixa histérica.

Lacan ao ultrapassar o impasse freudiano quanto ao final da análise, com a conceitualização do objeto a, abre também um novo caminho para pensar a feminilidade numa lógica que não seja toda-fálica. Estabelece, assim, uma distinção fundamental entre a posição histérica e a posição feminina, entre a histérica e uma mulher.

Pretendemos neste ano, a partir da visada lacaniana, fazer o percurso de Freud da histeria à feminilidade.

Bibliografia Básica:

André, S. O que quer uma mulher? Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1987.

Freud, S.- “Fragmento da análise de um caso de histeria”(1905) Edição Standart das Obras Psicológicas de Sigmund Freud, vol.VII. Rio de Janeiro: Imago, 1980.

________- “Feminilidade”(1932) Edição Standart Brasileira das Obras PsicológicasCompletas de Sigmund Freud, vol.XXII. Rio de Janeiro: Imago, 1980.

Coordenação: Ana Paula da Costa Gomes

Local: Rua Gavião Peixoto, 182 sala 621

Horário: Terça-feira às 13:00     Frequência: quinzenal Início: 29/03/2011

 

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Formação

Sugiro aqueles interessados, na formação em psicanálise o cronograma de eventos da Escola Lacaniana em Niterói.

Escola Lacaniana de Psicanálise – Niterói
Cronograma de março/11
Seminário 11- Coordenação: Onezir Rosa Borges
Local: Rua Miguel de Frias, 77, sala 1512, Icaraí, Niterói
6as. Feiras (semanal) de 11:30h às 12:30h
Dia: : 18/03
Neuropsicoses de Defesa – Coordenação: Onezir Rosa Borges
Local: Rua Miguel de Frias, 77, sala 1512, Icaraí, Niterói
6as. Feiras (semanal) de 13:00h às 14:00h
Dia: 18/03
A Constituição do Sujeito – Coordenação: Andrea Matheus Tavares
Local: Rua Mem de Sá, 19 sala 504 – Icaraí – Niterói
2as. Feiras (semanal) de 18:30 às 19:30h
Dias: 21/03 e 28/03
A lógica da castração – Coordenação: Fernando Baron
Local: Rua Gavião Peixoto, 183/907. Niterói
2as. Feiras (quinzenal) de 20:00h às 21:00h
Dias: 14/03 e 28/03
O Estádio do Espelho e a Tópica do Imaginário – Coordenação: Eliane Rodriguez
Local: Travessa João Francisco da Matta, 17 Icaraí – Niterói
3as. Feiras (quinzenal) de 14:00h às 15:00h
Dia: 22/03
A Histérica e a Mulher – Coordenação: Ana Paula Gomes
Local: Rua Gavião Peixoto,182 sala. 621 – Icaraí – Niterói
3as. Feiras (quinzenal) de 13h às 14h
Dia: 29/03
O Mal-Estar na Civilização – Coordenação: Amanda Andrade  Lima e Andrea Pires Camargo
Local: Rua Gavião Peixoto, 80/ s.404
5ªs Feiras (semanal) 13h às 14h
Dias: 17/03, 24/03 e 31/03
Psicanálise e Infância – Coordenação: Ana Cláudia Bezz
Local: Rua Moreira César, 383/ s.902 – Icaraí – Niterói
2as. feiras (semanal) 16h às 17h
Inicio 04/04
Curso de Introdução à Psicanálise 2011
A DIREÇÃO DA CURA
AULA INAUGURAL-CLÍNICA PSICANALÍTICA E CONTEMPORANEIDADE (30/04)
Teresa Palazzo Nazar
MÓDULO 1: O INCONSCIENTE E A LÓGICA DO SIGNIFICANTE (14/05)
Bethania Mariani
MÓDULO 2: ENTREVISTAS PRELIMINARES (21/05)
  • Queixa e sintoma analítico
  • Demanda de análise
Andrea Pires Camargo
MÓDULO 3: O DIAGNÓSTICO EM PSICANÁLISE (28/05)
  • As estruturas clínicas. Neurose e psicose
  • Histeria e neurose obsessiva
Flávia Chiapetta
MÓDULO 4 : TRANSFERÊNCIA E O LUGAR DO ANALISTA (04/06 E 11/06)
  • Transferência e resistência. Transferência e repetição
  • O sujeito suposto saber
Onezir Borges
MÓDULO 5: INTERPRETAÇÃO (18/06)
  • A interpretação dos sonhos
  • Metáfora e metonímia
  • As intervenções do psicanalista e a interpretação
Maria de Fátima do Amaral Silva
MÓDULO 6: O DINHEIRO E O PAGAMENTO NA PSICANÁLISE (06/08)
  • O lugar e a função do dinheiro na economia psíquica
  • O neurótico e sua dívida: pelo que e o que se paga?
Fernando Baron
MÓDULO 7: TEMPO LÓGICO E O CORTE DAS SESSÕES (13/08)
  • A atemporalidade do inconsciente
  • Instante de olhar, tempo de compreender e o momento de concluir
  • O sujeito pontual e evanescente
Abílio Ribeiro Alves
MÓDULO 8: FINAL DE ANÁLISE E O DESEJO DO PSICANALISTA (20/08 e 27/08)
  • Análise terminável e interminável
  • O desejo do analista e o desejo do Outro
  • A travessia da fantasia e o final de análise
Ana Paula Gomes
MÓDULO  9: PSICANÁLISE COM CRIANÇAS (03/09 e 10/09)
  • A criança como sintoma dos pais
  • Entrevistas e manejo com os pais
  • Sintoma, Édipo e fantasia: a direção das análises com criança
Ana Claudia Bezz
MÓDULO 10: PSICANÁLISE COM ADOLESCENTES (24/09 e 01/10)
  • As transformações da puberdade: mudanças no corpo, convocações sociais e o iminente encontro com o real do sexo
  • Abalo na estrutura e apelo ao Pai
  • Sintoma adolescente: a transferência nas análises com adolescentes
Andrea Tavares
AULA DE ENCERRAMENTO (08/10)
José Nazar
Local: Avenida Mem de Sá, 19 – Cobertura
Icaraí/ Niterói-RJ
Sábados: 10h às 12h
Valores por semestre: R$ 300,00 profissionais/ R$ 200,00 estudantes

 

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Recomendações aos jovens psicólogos que desejam exercer a psicanálise.

Assim, aqueles que buscam a formação em psicanálise deveriam antes de tudo fazerem um questionamento intimo sobre “seu jeito para a coisa”.

Em minha recente re-leitura do psicanalista Contardo Calligaris (em especial, “Cartas a um jovem terapeuta”) uma descrição fornecida pelo autor me tocou de forma inusitada. Recordei-me dos muitos estereótipos que nos são oferecidos ao longo de nossa formação. Estereótipos, esses, difundidos por escolas ou grupos, que num dado momento histórico trouxe certos benefícios para consolidar um campo, para a prática da psicanálise. Sempre perseguimos um modelo. Interessante quando se torna recomendado, não recomendar. E sim ser! Antes de tudo!

Calligaris traz uma sugestão curiosa em seu texto: ao invés de perseguirmos um estereotipo profissional, propõem-se traços de personalidade necessários para aquele que deseja seguir a formação em psicanálise. Ou seja: a nossa forma de ser, ver o outro, valores morais e idéias determina o sucesso de escolha nessa profissão.

Ele delineia algumas características pessoais necessárias para formação de um bom profissional, em psicanálise.

  • Possuir um gosto significativo pela palavra como também apreço pelas pessoas, independente do quanto elas podem ser diferentes. Isso inclui lidar com pessoas e estereótipos, que jamais seriam uma escolha, para o nosso convívio pessoal.
  • Ser curioso a respeito da experiência humana, com o mínimo possível de preconceito. Possuir crenças e convicções são importantes. Contudo, essas não podem afetar num julgamento pré-concebido das condutas humanas. Isso tornaria nulas as chances de ser um bom psicanalista.
  • Seria importante que o analista já tivesse certa quilometragem rodada em experiências de vida. Isso o tornaria mas afeito a lidar, como terapeuta, com sintomas e fantasias sexuais, (a exemplo disso) mais condenáveis a seu tempo. Requer um gosto pela escuta do inusitado, com o menos de surpresa e deslumbramento possível.
  • Um futuro analista deve já ter sido paciente e que já tenha tido uma boa dose de sofrimento psíquico. Durante os anos, em que for analista, muitas vezes acontecerá de duvidar de sua própria prática. Existirão casos, em que os pacientes se agarram aos seus sintomas e não se consegue grandes avanços. Nesses momentos será importante lembrar que você sabe da eficácia de sua prática, já que funcionou ao menos para um: você!

Sendo Assim, caso você já tenha tido sua quota significativa de sofrimento, possua desejos um pouco estranhos, não julgue as condutas humanas, trate as pessoas com apreço, goste da palavra e não busca ser um notável de seu grupo: Parabéns e seja bem vindo a matilha de psicanalistas selvagens!!!!

 

 

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A moda da depressão ou depressão, à sua moda.

A posição de um profissional da saúde mental diante de seu paciente é de atenuar a idéia supervalorizada de que nunca se é feliz o suficiente.

Faz parte do nosso arcabouço psíquico, expressar pólos diferentes de emoções. Tais como as emoções positivas: alegria, felicidade, êxtase o ser humano também porta emoções negativas (tristeza, raiva e desânimo.), que estabelecem um equilíbrio ao nosso saudável funcionamento.

Pesquisadores da Universidade de Harvard desenvolvem a teoria, de que os humores sombrios portam uma conexão com a criatividade. À exemplo disso, grandes artistas, escritores e músicos padecem de depressão ou bipolaridade. Demonstrando assim sua maior produtividade quando imersos em estados de emoções mais sombrias.

Acredita-se que a maioria dos casos de depressão não possa ser considerada uma doença. Mas sim um estado de adaptação psíquico a um novo dado de realidade, que causa angustia, porém traz uma reação mais concentrada e útil para solução de problemas mais difíceis.

Nessa situação de vida, o feedback analítico tem um forte impacto, já que leva o paciente à reflexão sobre o sentimento de infelicidade, desencadeando processos criativos subconscientes. Assim a angústia “normal” ocasionada por um estado de infelicidade, é uma sensação que pode nos levar a reavaliar a vida. Costumo dizer que dificilmente alguém se recorda de ter ouvido: “- Nossa!!! Que situação boa!! Aprendi tanto com ela!!” O estado de aprendizagem na maioria das espécies, está condicionado a algum evento negativo.

Desta maneira, o estado de humor depressivo é um importante elemento a ser abordado de forma a convocar novos posicionamentos de vida.

Quando humor deprimido deixa de ser positivo?

É importante identificar quando uma pessoa permanece por duas semanas ou mais, com cinco dos sintomas relacionados abaixo. Neste caso trata-se dos critérios necessários para transtorno depressivo maior. Sendo assim, necessária intervenção medicamentosa.

  1. Perda ou ganho de apetite.
  2. Insônia ou sono em demasia.
  3. Indecisão ou capacidade diminuída de concentração.
  4. Agitação motora (como torcer de mãos) ou atividade física lentificada.
  5. Pensamentos recorrentes de morte e suicídio
  6. Menor interesse ou prazer nas atividades do cotidiano.
  7. Fadiga ou perda de energia.
  8. Sentimentos de inutilidade, culpa excessiva ou inadequação.

 

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Desejo…

Começo de uma nova contagem cronológica e marcada época cultural, de se evocar desejos. Porém, no que isso irá referir-se ao desejo, em psicanálise?

Desejar o desejo do outro! A isso que refere-se o desejo psicanalítico. Um sujeito desejante e do desejo, acima de tudo!

Então faz-se necessárias algumas diferenciações. Comumente o que denominamos desejo,no senso comum, relaciona-se com a emersão de um estado de tensão interna, que possui sua satisfação numa ação especifica, dada por um objeto. Tal qual o sono que tem como objeto dormir ou a sede que se satisfaz no beber liquido. Assim caracteriza-se um “desejo” que está marcado pela vontade ou necessidade a um endereçamento circunscrito de objeto. Poderíamos nomear instinto e assim demarcar a singularidade de animal e humano. A psicanálise refere-se ao desejo como algo satisfeito na ordem da fantasia e que está mediatizado pelo desejo do outro. Para ser desejo é preciso ser marcadamente humano e está condicionado, a ausência de um objeto de satisfação concreto. Garcia-Rosa (em “Freud e o inconsciente)” ilustra que o desejo do homem por uma mulher ou vice versa é constituído por aquilo que constituiu historicamente/ culturalmente um corpo desejado por outros desejos. Assim o homem aspira apossar-se do desejo da mulher como também tornar-se desejo dela, o mesmo acontecendo em seu oposto.

Imagem do acervo - Blog Luciane Valença

Como fica o amor nessa dinâmica? A mediação que se dá no encontro entre os desejos de seus pares será a expressão do amor. No confronto do objetivo de dois desejos é de onde se extrai o sentimento de amor. A ausência da discriminação conceitual entre desejo humano e vontade, esclarece em muito o motivo de um número cada vez maior de casais se separem. Estabelecem laços relacionais sem ter a clareza para discernir o que os motivam a sustentar uma relação. Por isso, o conceito de desejo é tão caro a psicanálise. O desejo nos mantém em movimento, o que não nos impede de usufruir cada passo e cada conquista. Desejar é a essência de ser humano e condição para o amadurecimento emocional, seja em qualquer etapa ou condições que nos coloquemos.

Desejar é um estado de não parar nunca!

 

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Curso de introdução a psicanálise: recomendo

Uma excelente oportunidade com profissionais que muito influenciaram minha clínica.

O Curso de Introdução dirige-se aos analistas em formação e àqueles que queiram se aproximar da psicanálise. Neste ano será trabalhado o tema: A direção do tratamento. O objetivo é abordar questões fundamentais da clínica e conceitos teóricos a partir dos problemas que atualmente ocupam os psicanalistas em seu ofício.

1º semestre:

MÓDULO 1: AS ENTREVISTAS PRELIMINARES (19/03 e 26/03)

  • Queixa e demanda de análise
  • O sintoma analítico (2 aulas)

Maria Teresa Saraiva Melloni

MÓDULO 2: PSICANÁLISE COM CRIANÇAS (02/04, 09/04 e16/04)

  • Entrevistas e manejo com os pais
  • A criança como sintoma dos pais
  • Sintoma, Édipo e fantasia: a direção das análises com criança (3 aulas)
  • O Infantil no cinema

Sérgio Prestes, Miriam Dyskant e Shirley D´Ávila Baron

MÓDULO 3: PSICANÁLISE COM ADOLESCENTES (30/04, 14/05 e 21/05)

  • As transformações da puberdade: mudanças no corpo, convocações sociais e o iminente encontro com o real do sexo
  • Abalo na estrutura e apelo ao Pai
  • Sintoma adolescente: a transferência nas análises com adolescentes (3 aulas)
  • O Adolescer no cinema

Abilio Ribeiro Alves, Miriam Dyskant e Shirley D`Ávila Baron

MÓDULO 4: TRANSFERÊNCIA E INTERPRETAÇÃO ( 28/05, 04/06 e 11/06)

  • A entrada em análise e a instauração da transferência
  • A interpretação dos sonhos
  • As intervenções do psicanalista e “o que é uma interpretação

Ana Benjó

MÓDULO 5: O DINHEIRO E O PAGAMENTO NA PSICANÁLISE (18/06 e 02/07)

  • O lugar e a função do dinheiro na economia psíquica
  • O neurótico e sua dívida: pelo que e o que se paga? (2 aulas)

Flávia Chiapetta de Azevedo

2º Semestre:

MÓDULO 6: TEMPO LÓGICO E O CORTE DAS SESSÕES (06/08, 13/08 e 20/08)

  • A atemporalidade do inconsciente
  • Instante de olhar, tempo de compreender e o momento de concluir
  • O sujeito pontual e evanescente

José Nazar

MÓDULO 7: NOVAS PATOLOGIAS? (27/08, 03/09 e 10/09)

  • As neuropsicoses de defesa em Freud
  • Síndromes, transtornos e distúrbios: novas patologias?
  • Os distúrbios alimentares: desafio para os psicanalistas

Teresa Palazzo Nazar

MÓDULO 8: CLÍNICA DAS TOXICOMANIAS (17/09 e 24/09)

  • Os problemas que as toxicomanias colocam para os psicanalistas: o que é possível?
  • Do gozo da droga ao sintoma que faz falar: uma direção

Simone Delgado

MÓDULO 9: FINAL DE ANÁLISE E O DESEJO DO PSICANALISTA (01/10, 08/10 e 15/10)

  • Análise terminável e interminável
  • O desejo do analista
  • O luto do psicanalista: luto do ser e dos ideais
  • O final de análise

Monica Visco e Ana Paula Gomes

sábados, de 10 às 12h

Local: Avenida Ataulfo dSe Paiva, 255 – Auditório

Leblon – Rio de Janeiro-RJ

Por favor encaminhe para seus contatos.

Secretaria – ELP-RJ
secretaria@escolalacaniana.com.br
Tels: (21) 2294-9336/ 2239-7199/
Cel: (21) 8023-5574

 

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Saudações!

Apesar de um final de ano afastada de meus escritos, dadas as condições limitadas de meus punhos, ainda assim precisava desejar boas novas e agradecer a todos, pela conquista desse espaço.
Que este fim de ano e inicio seja um momento de conquistas e celebração.
Que possamos ser tocados pela solidariedade e bons pensamentos tanto para si, quanto aqueles a nossa volta.
Que essa celebração ultrapasse as fronteiras do material e possa ser algo interno e compartilhado.
O mundo precisa de luz e somos nós que alimentamos essa energia.
Boas Festas, muita paz e carinho a todos!!!
Paula Muniz
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Palestra de José Nazar em Niterói – Convite

Convite
04 de dezembro – Aula de encerramento das atividades ELP-Niterói
Palestra aberta ao público com Dr. José Nazar
Local: Rua Mem de Sá, 19 – Icaraí, Niterói
Horário: 08:30 às 10:00

A Formação dos Psicanalistas

“Os ensinamentos da psicanálise baseiam-se em um número incalculável de observações e experiências, e somente alguém que tenha repetido essas observações, em si próprio e em outras pessoas, acha-se em posição de chegar a um julgamento próprio sobre ela”. (Sigmund Freud, “Esboço de psicanálise”, 1938)

“Partimos daquilo que seria o final de um percurso: o tornar-se psicanalista e sua autorização. Como alguém se torna psicanalista? Essa pergunta se encontra na origem dos grupos analíticos e deve ser levada às últimas conseqüências.

Desde Freud, a formação dos psicanalistas se inscreve como da ordem de um tornar-se, fruto de um trabalho de construção que se processa fundamentalmente numa experiência de análise: a formação dos psicanalistas é uma formação permanente. Toda e qualquer psicanálise pessoal levada a termo poderá causar um psicanalista. Depois, é outra história(…).” (Dr. José Nazar)


 

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Formação – Saúde Coletiva na Uff

Segue uma valorosa indicação para a formação de profissionais no campo da saúde coletiva.

O Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense nasce com o compromisso de desenvolvimento científico do campo da saúde coletiva, buscando incrementar a pesquisa na área e articular o conhecimento acadêmico com os serviços de saúde.

Coordenador: Prof. Dr. Túlio Batista Franco

Subcoordenadora: Profª. Drª. Edna Massae Yokoo

Estarão abertas as inscrições para o Estágio Probatório, para o Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva – Mestrado, nos dias 17 e 18 de fevereiro de 2011.

http://www.uff.br/saudecoletiva/2011/


 

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Caminhos fecundos entre psicanálise, filosofia e arte

Aprecio a arte como um importante instrumento de inscrição do inconsciente…

Em uma pintura, a tela em branco, toma o lugar de solo fecundo para nossos anseios mais profundos. Anseios que dormem, mas são despertados em cores e traços, no pincel de um artista.

Através de um colega de estudos, tive acesso a um pensamento do filósofo contemporâneo Peter Pal Pelbart (um estudioso da obra de Gilles Deleuze) que ilustra em seu texto: “Um desejo de Asas”, uma comparação dos anjos com os terapeutas (profissionais de ajuda). Então comecei a procura de uma imagem que retratasse com fidedignidade esse trecho.

Sempre me surpreendo com a infinita capacidade da conexão entre arte e psicanálise, com tantos outros saberes!

Em “Revelação” por Carlos Valença, encontrei a precisão de um traçado e a linguagem figurada, que caracteriza a dialógica entre Carlos e o texto de Peter. O mais curioso e importante nesse diálogo, foi a percepção de que tanto o texto, quanto a pintura, compunham um todo, mesmo sendo maior em ambas as partes. Os autores em questão, possuem uma significativa conexão com o teatro e a maestria de transmissão de saberes/conhecimento, de uma forma lúdica e poética. Essa conexão me trouxe a impressão de continuidade, entre uma obra e outra.

Peter traduz de maneira lúdica, o lugar de acolhimento daqueles que possuem, o ofício e o dom da escuta. Carlos contribui trazendo o retrato pessoal e inconsciente, em traços e cores que compõem a missão, que definiu para sua vida: escutar e transmitir sua fé.

Todos que escutamos e nos comprometemos visceralmente com a transmissão de conhecimento, sentimos um pouco dessas coisas e trazemos dentro de nós as inquietações dos anjos.

Enfim, mesmo que de forma virtual, pude estabelecer um fecundo diálogo entre esses autores. Uma conexão! Em psicanálise diríamos: Um bom encontro.

“Quando querem, ouvem os pensamentos dos homens, mulheres e crianças. Aproximam-se deles devagarzinho, inclinam a cabeça em direção ao ombro e escutam seus monólogos, suas preces, devaneios, anseios. O que faz um anjo quando percebe que a desesperança invade a alma de um humano? Toca-lhe o ombro de leve, com a ponta dos dedos, e o sofredor se dá conta de algo a roçar-lhe o entorno, mas não sabe ao certo o que. Intui uma presença estranha mas nada vê; sente como que um farfalhar de folhas, uma perturbação desconhecida, uma espécie de cintilância. E aí seu corpo caído retoma em um vigor inesperado, o pensamento de repente bifurca para longe da morte, ocorre-lhe como que um pequeno renascimento. Um pouco como um terapeuta: essa disponibilidade para ouvir, para tocar, essa presença discreta que pode às vezes suscitar um novo começo – mas também essa impotência para determinar, para resolver, para viver no lugar de”.

 

  • Peter Pál Pelbart, nascido na Hungria, vive em são Paulo, é filósofo e ensaísta. Graduado em Filosofia pela Université Paris IV (Sorbonne), mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo. É tradutor e estudioso da obra de Gilles Deleuze (traduziu para o português “Conversações”, “Crítica e Clínica” e parte de “Mil Platôs”). É professor-titular da Pontíficia Universidade Católica de São Paulo. Publicou, entre outros, O Tempo Não-Reconciliado (Perspectiva, 1998); A Vertigem Por um Fio (Iluminuras, 2000), Da Clausura do Fora ao Fora da Clausura: Loucura e Desrazão (Brasiliense, 1989), A Nau do Tempo-Rei (Imago, 1993). É professor no Departamento de Filosofia e no Núcleo de Estudos da Subjetividade do Pós-Graduação em Psicologia Clínica da PUC-SP. Traduziu obras de Deleuze para o português. Coordena uma trupe de teatro com usuários de saúde mental na cidade de São Paulo (Cia Teatral Ueinzz)

 

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Espaço de Psicanálise e Arte (Atividade aberta ao público)

Durante os últimos 9 anos a ELP vem desenvolvendo pesquisas no campo das artes, que propiciaram a realização de sete Cirandas de Psicanálise e Arte.

A idéia, é manter um espaço permanente de interlocução com esse campo, procurando retirar da experiência o máximo de ensinamentos, que nos permitam avançar na investigação sobre o objeto da psicanálise, isto é, o sujeito.

Data: 03/11

Horário: 19 horas

Local: Avenida Ataulfo de Paiva, 255 – Auditório do Edifício Leblon Offices

Convidados:

  • Ana Benjó (Psicanalista, Membro da ELP – RJ) – “Cinema e Fantasia”
  • Elisabeth Bittencourt (Psicanalista, Membro da ELP – RJ) – “Eu me conto, tu te contas, e Macabéa não se conta?”
  • Debatedor: Sérgio Cwaigman Prestes (Psicanalista, Membro da ELP – RJ; Doutor em Psicologia U.F.R.J)

Coordenação: Teresa Palazzo Nazar

 

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O laço e o abraço: uma metáfora psicanalítica das relações.

Em uma valorosa conversa com a amiga e psicanalista Laura Kastrup, trocamos impressões sobre a forma estrutural e a clínica dos relacionamentos. Daí destacou-se uma lembrança do início do encontro desta amiga com a psicanálise, que tornou-se uma inestimável contribuição metafórica, em minha clínica. Sempre que sou convidada a falar sobre o tema “relações”, ilustro com o poema de Quintana. Uma brilhante metáfora, sobre a composição estrutural das relações e sobre sua impermanência, enquanto forma, mas continuidade como conexão.

Destaco ainda, a presença de uma analogia dialética, em que ilustra-se bem, que a junção de duas partes cria uma terceira forma: seja um laço ou um nó. Uma relação é constituída de três partes: um cônjuge, outro cônjuge e a soma dos dois, que se transmuta numa terceira e nova entidade independente, daqueles que a somam.

O LAÇO E O ABRAÇO
Mário Quintana

Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço… uma fita dando voltas.
Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o
laço. É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de
braço. É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido,
em qualquer coisa onde o faço.
E quando puxo uma ponta, o que é que acontece? Vai escorregando…
devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.
Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido.
E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço.
Ah! Então, é assim o amor, a amizade.
Tudo que é sentimento. Como um pedaço de fita.
Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora,
deixando livre as duas bandas do laço. Por isso é que se diz: laço
afetivo, laço de amizade.
E quando alguém briga, então se diz: romperam-se os laços.
E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum
pedaço.
Então o amor e a amizade são isso…
Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço!

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Direito e Psicanálise – Curso

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Reforma Psiquiátrica: uma solução paradigmática.

A forma de lidar com a loucura não está restrita aos muros psiquiátricos, sendo antes um modo de relacionar-se e cuidar da loucura.

De acordo com Paulo Amarante (2003, p, 53.) : “… a doença não é um objeto, mas uma experiência na vida de sujeitos distintos”. Então a implementação de políticas publicas especificas, que contemplem diversidades de vida faz-se fundamental para a consolidação da Reforma psiquiátrica. Conhecer os caminhos distintos desses sujeitos. Seu caminhar fora dos muros. Ampliar a clinica para além dos limites geográficos das instituições e construir novos aparatos sociais. Assim, possibilitar a existência global de um sujeito, num corpo social que ainda se vê referenciado ao modelo ultrapassado “doença” separada da existência global. A forma de lidar com a loucura não está restrita aos muros psiquiátricos, sendo antes um modo de relacionar-se e cuidar da loucura.

Amarante, (2001) refere-se como um equivoco entender a Reforma Psiquiátrica como uma simples reestruturação do modelo hospitalocêntrico. O cuidado não deve ser visto apenas como um local ou uma nova forma de geografia da assistência, mas deve se traduzir em algo que vá até o usuário que respeite suas particularidades e necessidades. Ser uma ponte entre o sofrimento e à sociedade.

A epistemologia de Gaston Bachelard e o pensamento kuhniano., considera que o processo de elaboração de conceitos e mudanças pode emperrar devido à existência de obstáculos epistemológicos. “Estes obstáculos são vencidos por atos epistemológicos que retomam a fluência do processo de produção de conceitos” (Camargo Jr, 1992). A discussão ampla desses conceitos pode trazer a luz os entraves que ainda não demonstram soluções, definitivas, ao Paradigma Asilar. Iniciativas técnicas e estruturais concretas são importantes, mas não se sustentariam sem um bojo conceitual também reformador.

A não superação conceitual asilar, ainda se encontra presente, já que contempla separadamente a idéia de reformar ao ato de se reformar. O ato terapêutico reformador dissociado da idéia é mantenedor do isolamento social.

Embora o Paradigma Asilar não abrangesse condições dignas de tratamento (técnicas disciplinares, contenção química e outras.), ele possui um poder de convencimento social, que respondeu bem a demanda de seu tempo: ele exclui os “loucos” da sociedade. O Epistemologo Kuhn explica que um paradigma é hegemônico não porque é verdadeiro, mas sim por ter a capacidade de convencimento em resolver a maioria dos problemas (Camargo. Jr. 1992). Reformar a questão da loucura não se trata somente de criar novas instituições ou espaços de tratamento diferente do modelo asilar. Trata-se de questionar se de fato houve uma mudança de paradigma. Já que o Paradigma da Reforma continua a perpetuar o mesmo modelo de resolução de problemas para o “louco” de o Paradigma asilar: criar instituições que mantenham o “louco” fora do corpo social. E por que não integrá-lo com sua diferença em sociedade?

Trata-se de renovar então o paradigma para que se encontre modelos convincentes de resolução de problemas que inclua o usuário da saúde mental, como sujeito do social. Quando o ‘louco’ sai da situação de internação, hoje, o que encontra de acolhimento e aceitação social para além muros? Outros muros?

Não se faz eficaz só mudar a cena, mas também mudar as regras do jogo social para que essa clientela se veja incluída e fazendo parte de uma mesma sociedade.

AMARANTE, P (2003). “A (clínica) e a Reforma Psiquiátrica.” Em: Amarante, Paulo (coordenação). Archivos de Saúde Mental e atenção psicossocial/ Moacyr Scliar… (et al.). Paulo de Frontin, RJ: NAU Editora, p, 45 – 63.

CAMARGO JR.K.R. (1992) “Paradigmas, ciência e saber médico.” Série Estudos em Saúde Coletiva, n 6. Rio de Janeiro: UERJ/ IMS, p, 1 – 20.

CAMARGO JR. K.R & NOGUEIRA. M. I (1998) “ Dois tópicos para uma discussão sobre medicina e ciência.” Série Estudos em Saúde Coletiva, n 172. Rio de Janeiro: UERJ/ IMS, p, 3 – 18.

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Novos caminhos entre Psicanálise e Arte.

Já faz algum tempo que a expressão artística vem tomando um importante lugar, de intervenção em minha clínica. A arte, enquanto instrumento de comunicação inconsciente traz significantes não ditos, que estabelecem conexões discursivas. Já disse Julio de Mello (Autor: Psicossomática Hoje), que: “Quando a boca não fala os órgãos choram”. Então a expressão artística é a forma saudável de sublimação, para que nosso corpo sintomático, não venha a chorar (digo: através de doenças psicossomáticas).

Já na clínica da psicose a arte, muitas vezes, torna-se um reflexo de um inconsciente exposto, totalmente a “céu aberto”. Também funciona, em alguns casos, como um desvio ao olhar do analista, que se decifra como um olhar “objetificante”, ainda nos casos de psicose.

Recentemente a artista Luciane Valença me fez um inusitado convite: fazer a crítica de uma de suas telas, do ponto de vista psicanalítico. Já que sua obra foi idealizada pela motivação, de conceitos em psicanálise. Confesso que foi um interessante desafio, que ao final se traduziu numa percepção, bem fiel ao que a artista pretendia enunciar em sua obra. Um grato desafio e mais uma oportunidade de conexão entre psicanálise e arte. Segue abaixo a critica.

“Psiqué” por Luciane Valença, é um convite a uma viagem inconsciente. Contempla aspectos do feminino e masculino retratado através do simbolismo da gestação e fecundação, em matizes de azul. A artista destaca o olhar como centro de sua obra, tão claramente referente à pulsão escópica, que se caracteriza pela energia libidinal do olhar. A multiplicidade de nuances revela a sublimação de um inconsciente, que não está a céu aberto, mas se comunica por formas, luzes e cores.

A arte é um significante instrumento e ponte fecunda de contribuição ao saber psicanalítico.

Em sua arte Luciane comunica o indizível, ilustrando o processo de “bem dizer” sobre si mesma. Uma experiência analítica, auto-referente e convergente ao saber psicanalítico com a arte.

Uma surpreendente visada!!!

Abaixo, link do site Atelier Valença, onde consta a crítica e outras obras, produto do sensível e perspicaz olhar da  família Valença.

http://valencaearts.blogspot.com/2010/10/tela-psique.html

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Simples assim…

Nem sempre, para se falar de psicanálise precisam-se de palavras difíceis ou frases rebuscadas. Recentemente um paciente compartilhou comigo um texto antigo que descobriu. Neste ilustra-se um interessante poema, em que uma menina de 15 anos (na época), em sua simplicidade poética explica tão claramente o desejo da escuta de um analista. Compartilho também com vocês.


“ Gostaria que houvesse alguém

que, ouvisse minha confissão:

não um padre – não quero que me digam meus pecado;

não minha mãe – não quero causar tristeza;

não uma amiga – não entenderia o bastante;

não um amante – seria parcial demais;

mas alguém que ao mesmo tempo fosse (parecesse) o amigo, o amante, a mãe, o padre.

e ainda um estranho – não julgaria nem interferiria,

e quando tudo já tivesse sido dito desde o início até o fim,

mostraria a razão das coisas,

daria forças para continuar

e para resolver tudo à minha própria maneira.

(Publicado em 1916 em The Little Review)

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Psicose: uma leitura psicanalítica em Hitchcock.

Estamos todos presos em nossas próprias armadilhas…Eu nasci na minha.”

O filme Psicose do cineasta Alfred Hitchcock, torna-se ainda mais interessante, quando apreciado particularmente do ponto de vista das falas de Norman Bates. A frase destacada acima, reflete claramente a relação confluente de Norman com a mãe. Ilustra o não descolamento da figura materna e a foraclusão do nome do pai, que apresentam-se na psicose. Dentro do modelo edipiano a psicose se dá pelo não reconhecimento da mãe e sua desautorização ao corte simbólico dada pelo lugar de função paterna.

O lugar de pai na neurose é aquele que entra como corte (entrada da lei) na relação mãe e bebê, para que o último entenda que a mãe não é só dele. Que existe algo externo que corta e dá limites a essa relação. Assim, dará inicio a dualidade psíquica, e portanto, ao sujeito dividido. A criança entenderá que existem leis e limites para o gozo. Está instância de dualidade desencadeará o processo de estruturação psíquica da neurose. Isso não aparece na psicose dada a foraclusão do nome do pai.

A relação de Norman com a mãe é tão clara em seus aspectos psicóticos, que ao final a recusa de Norman, pela perda da mãe faz com que ela viva dentro dele mesmo. O lugar simbiótico continua a existir dentro de Norman, mesmo fora do plano da realidade. A psicose cria uma nova realidade para não entrar em contato com a realidade da morte da mãe. Seu lugar se torna assegurado dentro do próprio Norman. Visto que, a mãe realiza atos e fala pela boca do filho. A mãe de Norman toma um lugar psíquico de tamanho poder, que encapsula Norman em seu próprio delírio. Torna-o sujeito de seu delírio e assim delirante. A psiquiatria conceitua psicopatologicamente, esse fenômeno psíquico, como despersonalização do eu. Isso quando a instância psíquica do eu se fragmenta formando novas personalidades.

Enfim, um filme muito ilustrativo e exuberante em aspectos fenomenológicos da psicose. Requer uma leitura mais detalhada e repetida para captar, o que há de particular no discurso da psicose.

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Conexão: Psicanálise e Direito

Muito interessante o evento da Escola Lacaniana Conexão: Psicanálise e Direito, que aconteceu neste último sábado (04/09/2010) . Impressionante o relato trazido por Alexandre Morais da Rosa* em que o curso mais procurado pelos juízes do Paraná, era o de psicanálise. Uma valorosa conexão, já que a psicanálise serviria de ponte para um melhor entendimento de conceitos compartilhados, embora dessemelhantes em definições. Significantes como Leis, Sujeito e Verdade, são compartilhados por ambos os campos: Direito e Psicanálise. Porém de forma aparente, pois possuem significados diferentes.  Por exemplo: o sujeito do direito, é aquele que é dono de sua vontade e capaz de avaliar racionalmente seus atos e conseqüências, portanto assim denominado “sujeito em unidade”. O sujeito da psicanálise é aquele que porta uma fratura, uma cisão no psiquismo. Ele é um sujeito do desejo, que está alheio a sua vontade e nem tão pouco consegue racionalizar seus atos, visto que têm chistes, atos falhos e sonha. Instâncias essas, subordinadas ao inconsciente, ou seja,  coisas que escapam a uma vontade consciente.

O debatedor Agostinho Ramalho Marques Neto** relembra uma questão, bastante empolgante, sobre os 3 traumas narcísicos, que abalam ao longo da história a convicção do “EU”, como instância psíquica central.  Em primeiro plano, a teoria heliocêntrica de Copérnico, que retira a crença de que a terra é o centro do Sistema Solar, transferindo tal posição para o Sol e considerada, como uma das mais importantes hipóteses científicas de todos os tempos. Em segundo plano, as teorias evolucionistas que determinavam que o homem havia sido criado à parte da criação, ou seja, “o homem não é o centro da criação”. Por fim, o terceiro trauma narcísico, foi o nascimento da psicanálise, que desenvolveu sua teoria a partir da conceitualização de um aparelho psíquico composto de 3 partes: ID, EU e SUPEREU. O EU, não é mais o centro do aparelho psíquico e ainda é cindido (fraturado), assim não é mais senhor do psiquismo. Esses 3 golpes narcísicos irão de maneira drástica reestruturar a visão do sujeito sobre si mesmo, desencadeando assim um processo de estranhamento (em relação ao sujeito) sobre si mesmo. No entendimento que, já que habita algo em mim tão intimo, que não reconheço como meu, isso fica muito bem ilustrado nas palavras citadas por Caetano Veloso: “O que é de mim, não é de mim é desigual.”

* (Juiz de direito no Estado de Santa Catarina, professor universitário na área do Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, membro do Núcleo de Direito e Psicanálise do Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade Federal do Paraná.)

** (psicanalista, professor universitário nas áreas de Direito e Filosofia política, membro fundador do Núcleo de Direito e Psicanálise do Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade Federal do Paraná)

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Alta X “Normalidade”: Uma contradição em via de duas mãos.

Destaco para reflexão, um trecho de um blog, que tenho afinidades em particular. Nesse trecho me parece clara a ambivalência da relação entre alta como conseqüência de “ser normal” proposta pelo autor. Vejamos abaixo:

“E daí, o que quero dizer com “pessoa normal”? Algo assim: Pessoas que fazem ou fizeram análise (o pretérito perfeito talvez não venha ao caso já que “as altas” do meu conhecimento não depõem em favor dos seus respectivos analistas, mas vá lá que essa impressão possa ser resultado de irremediável inveja), razoavelmente esclarecidas (o que não tem nada a ver com estudo formal. Estudo formal mais prejudica a sanidade do que qualquer outra coisa) e que não vão morrer de doenças degenerativas relacionadas ao stress nem às várias somatizações possíveis e imagináveis.”

É com propriedade que o autor enuncia algo que muitas vezes passa despercebida ao senso comum, do que é um processo de análise pessoal. Não me deterei nesse post a explicar o conceito de normalidade para a psicanálise, mas apenas farei uma breve descrição da relação desta, com a alta de um tratamento, em psicanálise.

É fato, que a tão sonhada alta não condecora – tal qual uma medalha – o sujeito a uma posição de “normal”, até porque a discussão desse conceito envolveria aspectos sociais bem amplos (família, cultura, época, idade, gênero e outros). Dimensão, que ao seu modo, dará enquadre de normalidades variáveis. Sendo assim, traço uma analogia com uma via expressa de 2 mãos.

Digamos que na ida dessa via estamos em busca do alívio de situações imediatistas e quando sentimos a diminuição do peso dessas aflições, nos vemos como mais “normais”. Um número razoável irá interromper seu processo de análise nesse ponto. É preciso explicar que um analista deve manter um analisando, apenas quando observa a perspectiva do próprio de ir além, ou seja: o analisando tem que estar desejoso em dar continuidade. Isso em parte explica as altas que menciona o autor. O desejo do analista por si só, não é suficiente, para a continuidade do processo e nem deve.

Outra situação observada no decorrer do post, é o entendimento. Explicado de forma mais acessível, de que a grande “sacada” de um processo de análise, não está na conclusão do processo, e sim na proficiência em transitar em meio aos sintomas de forma mais saudável e possível. Essa conclusão estaria mais de acordo com a mão de retorno de uma via expressa. Em analogia, seria como olhar por uma janela a via em que se percorreu e refletir sobre o caminho escolhido. Só se toma atalhos quando já se conhece o caminho!

Enfim, uma interessante abordagem de dúvidas genuínas, entremeadas de humor que só poderia ser mencionada por alguém que busca um entendimento mais profundo e analítico sobre si mesmo.

Para conferir o post na íntegra, acesse:

http://leite-de-pato.blogspot.com/2006/11/sonhos.html#links

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Evento – Conexão: Psicanálise e Direito

Dia: 04/09 – sábado. Horário: 11hs

Local: Escola Lacaniana – RJ –  Av. Ataulfo de Paiva, 255 – Play – Leblon

Entrada franca

Palestrante: Alexandre Morais da Rosa – Juiz de direito no Estado de Santa Catarina, professor universitário na área do Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, membro do Núcleo de Direito e Psicanálise do Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade Federal do Paraná. Debatedor: Agostinho Ramalho Marques Neto, psicanalista, professor universitário nas áreas de Direito e Filosofia política, membro fundador do Núcleo de Direito e Psicanálise do Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade Federal do Paraná.

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Burnout e Bancos Privados: uma estreita relação.


Há 10 anos atrás, constitui minha clínica particular e desde então e cada vez mais, aumentam o número de atendimentos no consultório, de profissionais bancários, que sofrem de Burnout. Também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional. Sujeitos que trazem o relato da devastação subjetiva em que se consomem devido às pressões e exigências esmagadoras de sua função. Todo banco privado possui um setor de RH, onde se encontram psicólogos ocupados em processos de treinamento e seleção de pessoal. Contudo, em minha experiência, nunca tive notícias de campanhas preventivas ou acompanhamento por parte do setor de Recursos Humanos nos casos de Burnout. Digo acompanhar, no sentido de investigar causas individuais para se fazer um senso do que é característico como fator de stress dominante, para cada setor. Incansavelmente envio pareceres, que são acatados quanto ao afastamento do funcionário, contudo quando estes retornam de suas licenças, não vejo iniciativas institucionais que proponham um novo enquadramento ou mesmo tratamento para o problema em questão.

A Síndrome de Burnout , que no inglês significa “queimar por completo”, foi denominada assim por Freudenberger – Psicanalista nova-iorquino, na década de 70 após diagnosticar em si mesmo. Sendo assim, pessoas com a síndrome tendem a consumir-se apresentando alterações físicas e emocionais, onde comportamentos agressivos e irritadiços tornam-se “lugar comum”. No CID X está catalogada como F.43.8. (Estresse de ajustamento ao trabalho), seus sintomas variam em intensidade e combinações sintomáticas. Tais como: fortes dores de cabeça, muita falta de ar, tonturas, tremores, mudanças drásticas de humor, dificuldades de concentração, distúrbios do sono e problemas no aparelho digestivo. Também observamos características importantes como: exaustão emocional, avaliação negativa sobre si mesmo, depressão e indiferença com relação as pessoas que convive e atividades que desenvolve ( está por último funciona como um mecanismo de defesa psíquico). Essa síndrome aparenta predileção por funções que lidam diretamente ao trato de pessoas. Os portadores de síndrome de burnout necessitam de acompanhamento médico especializado (psiquiatra) e psicoterapia. A duração do tratamento é variável e um bom prognóstico depende, em muito, da redução de fontes estressoras.

Trabalhos que envolvam alto nível de stress são os principais causadores de Burnout,principalmente quando há um abuso de liderança, regras muito rígidas de tarefas, cumprimento de metas em prazos irreais e quando o quadro de funcionários é reduzido, sobrecarregando o funcionário com desvio de funções.  Por isso os funcionários de bancos privados disparam no ranking de Burnout. Outro fator que observo, em particular na minha experiência casuística, como grande fonte estressora, são as fiscalizações da instituição privada, que ao invés de se restringir a corrigir o protocolo, vão além disso, causando climas de abuso psicológico e de poder. Pouco respeitam o perfil de funcionamento de cada agência e só se preocupam na reafirmação do próprio poder.

Ora! Precisamos levar em conta que embora exista uma ideologia institucional que define um banco privado, ainda assim cada região e perfil da clientela vão influenciar em abordagens adaptadas a cultura local, como grupal (digo funcionários e clientes).

Então como reflexão final, deixo à sugestão as instituições, que desejam ser mais cuidadosas com seu quadro funcional, que continuem a permitir o afastamento do funcionário antes do agravamento da crise, que façam a investigação das possíveis causas de acordo com cada caso, que façam uso de políticas de planejamento e prevenção ao Burnout. Para que assim possa a premissa :“O trabalho enobrece o homem” , ser mais ato, do que simples palavras esquecidas num papel.

* Futuramente abordaremos o tema: Assédio Moral.

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Bullyng Escolar: Um desafio que atravessa as fronteiras da Educação e torna-se também um problema de Saúde Pública.


Bullyng Escolar é um fenômeno psicossocial que vem se expandindo consideravelmente no Brasil, e por isso, tomando uma dimensão epidêmica. Sua gravidade traz comprometimento ao saudável desenvolvimento do sujeito, como também conseqüências psicológicas, que ficam marcadas nos aspectos emocionais, sociais e cognitivos, até a fase adulta. É considerável o quantitativo de adultos, que ainda carregam consigo marcas desse processo escolar aviltante e depreciativo. Essas marcas incidem de forma prejudicial nas relações afetivas (parentais, amorosas e etc.), desempenho profissional e na interação social, como um todo. Sempre enfatizando a desigualdade de poder.

Bullyng caracteriza-se pela submissão a maus-tratos (principalmente relacionados à socialização escolar) que variam entre psicológicos, até inúmeras formas de agressão depreciativa, tais como: verbais, físicas, zombarias, difamações, ameaças, exclusão social e a mais nova modalidade conhecida como, Cyberbulling. Que nada mais do que a tecnologia sendo usada para ataques psicológicos, por meio de mensagens de celular ou das mídias sociais, ou seja: a deturpação de uma ferramenta tecnológica informativa para atos de violência mental, muito praticada pelos adolescentes na atualidade. Então, aquelas chamadas “Implicâncias escolares próprias da idade”, tornam-se agora um importante fenômeno de risco, a ser considerado como o desencadeador de problemas psicossomáticos para a Saúde Pública.

Os principais atores sociais envolvidos nessa prática adoecedora estão na faixa escolar do 3º ao 9º ano do ensino fundamental (9 a 15 anos, mais ou menos). Em sua grande maioria de famílias onde imperam a falta de limites, autoritarismo, ambivalência nas relações, práticas educativas medievais, superproteção e inibição da autonomia. Por isso, faz-se mister a adoção de práticas conscientizadoras, em meio ao espaço educacional (professores e alunos) e familiar, criando assim, uma rede de cuidados que esclareçam os malefícios causados na saúde mental, nesses casos.

O Bullyng Escolar tem o efeito de comprometer a estruturação saudável da personalidade (já que sua maior incidência é no período da puberdade a adolescência), comportando sentimentos negativos que implicam diretamente na auto-estima, trazendo incertezas sobre um ambiente escolar, em que possa se desenvolver em sua plenitude. Recentemente casos de suicídio juvenil e ataques armados aos agressores são corriqueiros no EUA.

Assim prestar atenção em nossas crianças e jovens é compromisso, que não somente envolve os campos da Educação e Saúde Pública. Trata-se de um compromisso social para a criação de um futuro mais salutar e de paz!

Conheça mais noticias sobre Bullyng: http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/bullying-preciso-levar-serio-431385.shtml

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Recordar é Viver!!!

“Um interessante recorte sobre o psicológico e complexo núcleo familiar, que nos convida a reflexão de nosso próprio drama cotidiano.”

“Recordar é viver”, é o título e jargão principal do brilhante espetáculo de Hélio Sussekind, escritor brasileiro, em que contracenam Sérgio Britto, Suely Franco, entre outros. A peça ilustra o retrato das relações de idas e vindas de uma família de classe média, e seu trânsito em meio às questões do cotidiano. Em seus personagens encontramos questões psicológicas bem definidas,retratadas nas dificuldades e alegrias em ser parte de uma família. Relevantes problemáticas da vida contemporânea são abordadas: rivalidades entre irmãos, preferências parentais e referências à “síndrome do ninho vazio” (Síndrome do Ninho Vazio, sensação de perda e falta de sentido à vida quando os filhos se mudam de casa).

O elenco desenvolve questões cruciais enunciadas em sentenças dramáticas como, “Gigôlo de Velhos” (dito por João sobre seu irmão, caçula de 30 anos, Henrique), que retrata a experiência contemporânea da adolescência tardia, em que os filhos demoram mais tempo sobre as asas protetoras de seus pais, ao invés de abraçar o mundo de encontro à maturidade.

Outra interessante sentença é “família trancada”, (dita por Bruna namorada de Henrique, em referência a família do namorado) que desenrola com dinamismo na peça, com a demonstração viva da dificuldade de comunicação entre seus membros, como também na repressão de sentimentos, que acabam atualizando-se no sintoma familiar.

Contudo,pérola do texto esta na expressão, “O passado fica mais bonito com o passar do tempo” (dito por Ana, a mãe, sobre as lembranças que tem de sua família), o que faz uma relação interessante ao passado que é re-significado num processo de análise. Com o passar do tempo construímos um “bem dizer” sobre as experiências vividas, mesmo as mais sofridas. Toda família em analogia a uma rosa, tem seus espinhos, mas nem por isso é menos fragante. O valor está na rosa, sendo assim nos valores fundântes e saudáveis que preservamos de nossa inscrição familiar.

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Meu Querido Sintominha!!!!

Por mais incômodo que possam ser nossos sintomas, ainda sim eles nos são muito queridos! Digo querido no sentido de familiar, pois por pior que seja a condição que nos encontramos preferimos o conhecido a aventurar-se ao desconhecido. É disso que se trata um processo de análise. Apostar num desconhecido, que também comporta resistências veladas. É poder desfazer-se de nossos queridos sintominhas a partir da visão dos quão velhos e ultrapassados eles estão. E que só se re-atualizam porque nos agarramos a eles, tal qual um querido ursinho! Não é algo fácil, nem tão pouco simples de se fazer. Porém o primeiro passo é arriscar-se a mudança. Porque na medida em que não nos arriscamos já estamos no NÃO. Então arriscar é poder ganhar um SIM! Ora! De qualquer forma no NÃO, você já está, quando não embarca no processo de se conhecer. É necessário coragem para olhar a si próprio.

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Do Caco a Fala ( um estudo de caso)

Do Caco a Fala (um estudo de caso)

A minha chegada à enfermaria de Longa Permanência foi de imediato precedida, pelo meu primeiro encontro com Zoya. É a partir deste encontro e do desenrolar dos seguintes, que estarei apresentando o trabalho que pude desenvolver com esta paciente e as questões que se colocaram, ao longo de minha breve passagem por este Serviço.

Artigo na íntegra no link abaixo:

https://paulamuniz.wordpress.com/artigos/

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Oficina do Sentimento

Os quadros apresentados ilustram uma experiência de grupo e a invenção de um dispositivo clínico e também de convivência terapêutica dentro de uma instituição total de Saúde Mental, em que resultou na reinvenção de um cotidiano, uma maior circulação da palavra e a implicação desses sujeitos não tão somente na formulação da oficina como no seu estar no Hospital. Chamamos esse dispositivo de Oficina do Sentimento[1].

Ver o texto na íntegra em:

https://paulamuniz.wordpress.com/contribuicao-de-outros-saberes/a-oficina-do-sentimento/

1] Nome escolhido pelos participantes da Oficina.

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Família

A família é um sistema crucial a continuação de nossas reproduções subjetivas. Fundamentada em uma rede social ela influência nossas escolhas e relações. Aprecio muito a expressão que disse: “Somos produtos de uma novelinha familiar.” Porém diferente de uma novela temos a escolha de dar continuidade a esse enredo ou ir por novos caminhos. Entender uma família é estar ciente de que esta é indissociável da rede de relações ao qual faz parte. A família se molda as condições sociais dominantes determinadas num espaço e época em que se constitui. Ela é muito mais que a noção de uma soma de suas partes. Assim por mais distante geograficamente que possamos estar, ainda assim carregamos impresso tal qual um DNA os registros que se fixaram em nossa interação familiar. Nossa verdade de alguma forma traz a impressão desses registros, mesmo quando negados. Por isso que o entendimento de nossa novelinha familiar é tão importante num processo de análise. Nessa dinâmica familiar funcionamos como atores a desempenhar um enredo” meio que pré-determinado” como numa novela. Contudo, não estamos atentos que enquanto partes que compõem a escrita desse núcleo familiar também somos autores, que tanto podem dar continuidade a uma história ou reescrevê-la completamente (ou quase!). Essa é uma das dimensões tratadas em uma analise pessoal. Trazer o distanciamento subjetivo necessário, para que possamos tomar posições diferentes nessa dinâmica de relações. Novos ângulos a se observar e novos posicionamentos! Não deixaremos de ser atores, mas porque não autores e diretores de nossa própria história?

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Um analista que faz análise???!!!!

Sempre me deparo com essa perplexidade quando respondo o tempo de minha análise pessoal. Há um certo descrédito leigo de que um excelente analista estaria numa condição de não precisar mais disso. Como um pedestal de: EU NÃO TENHO PROBLEMAS PORQUE SOU ANALISTA,ORA!Bem afirmação complicada essa já que estar na vida é problema! O que torna algo problemático mais sintomático é a maneira como transitamos em meio a eles. Lacan em seu artigo Critica da Contra- transferência (1992) fez um intrigante apontamento: que quanto mais e melhor analisado o analista for melhor dimensionada estaria sua capacidade de percepção,entendimento e acolhimento do que está se passando na analise de seu analisando. Ora! Isso então traz uma contradição vantajosa a perplexidade que respondo. Um analista, então, que tenha passado por um longo processo de análise ou que ainda faça terá maiores condições de separar o que pertence a si do discurso relatado de seu analisando. Assim sendo, menores são as chances de confundir suas projeções com aquilo que introjeta do discurso escutado para depois devolvê-lo ao seu analisado. Por isso: Mais vale um analista analisado na mão, que dois voando!

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Ouvir é diferente de escutar?

Começo a abrir esse espaço de reflexão e informação com uma questão que para mim é fundamental e vez por outra aparece como uma pergunta que me endereçam.

“– O escutar da análise é diferente de ouvir?”

De fato, é!

Para começar a estabelecer essa diferença vamos ao significado do dicionário de cada uma. Auxiliada pelo Moderno Dicionário de Língua Portuguesa – Michaelis, o significado de ouvir relaciona-se mais com os sentidos da audição e ao próprio ouvido. Demonstra uma idéia mais mecanicista e funcional do processo. “Entender, perceber pelo sentido do ouvido.”.Escutar seria um aprofundamento dessa experiência, significa: “… prestar atenção para ouvir; dar atenção a; ouvir; sentir; perceber…” Ou seja: o ato deescutar requer uma dimensão mais ampla e envolve mais sentidos do que tão somente o da audição. Requer estar atento ao interlocutor e dar um lugar ao que se ouve. Seria uma aplicabilidade mais especifica, portanto menos superficial que o ato de ouvir. Uma expressão interessante do senso comum é: “– Vou dar ouvidos ao que diz!”. Refere-se a uma tomada de posição frente a um discurso escutado. Isso aproxima-se mais da idéia de escutar.

Em se tratando de uma escuta analítica Freud em seu artigo dedicado aos médicos que exercem a psicanálise (1912) fez uma interessante analogia da comunicação inconsciente com o ajuste de um receptor telefônico.  O analista oferta uma escuta ao seu analisando tal qual um receptor se ajusta ao microfone transmissor em que irá capacitar uma escuta mais particular e especifica de modo a poder pinçar o que escapa do inconsciente comunicado no discurso do analisando. Escutar analiticamente requer uma disponibilidade em dar igual relevância a tudo que é escutado, para então revelar um sentido próprio, até então velado, ao analisando.

Assim, dependendo do que cada um espera em termos de atenção de seu interlocutor. Tanto ouvir como escutar terá sua aplicabilidade especifica. No cotidiano, trabalho. Lazer e entre amigos ou familiares mais comumente exercitamos o ouvir. Agora se desejamos uma auto-reflexão, progresso subjetivo, um melhor manejo do viver e mudança, isso sim, só envolve acapacitação profissional em escutar. Não é a toa que o senso comum manifesta-se assim: “– Quem escuta ouve, porém quem ouve não escuta.”

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